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Crítica | 3% - Primeira Temporada


A série 3% estreou na Netflix dia 25 de novembro carregando o título de ser a primeira produção inteiramente brasileira da gigante do streming, fato que gerou uma certa expectativa, ainda mais porque a série foge dos dramas batidos da TV aberta e apresenta uma ficção cientifica que se passa em um futuro diatópico. Na série, a população é dividida em dois grupos, os pobres, que vivem no continente e os por assim dizer ricos que vivem em alto mar numa comunidade chamada de Maralto. Quando os indivíduos do continente completam 20 anos de idade eles tem a chance de mudar de vida deixando tudo para trás para poder morar no Maralto, porém é preciso que os mesmos passem por um duro processo de seleção onde só os melhores poderão seguir para uma vida melhor, apenas 3% (daí o título), dos jovens que se submetem ao processo passarão.

3% é uma série cheia de ideias legais e boas intenções que infelizmente não conseguiu excuta-las ao longo dos 8 episódios dessa primeira temporada. Fica claro que a trama é uma crítica social do nosso tão amada país chamado Brasil. O acerto vem logo de cara ao mostrar essa segregação de pessoas, que precisam passar por testes absurdos para que sejam dignos de uma vida melhor, de fato a série é um espelho da nossa sociedade, que vive falando de igualdade social, quanto todos nós sabemos que ela nunca vai haver. Mas quantas séries cheias de boas ideias não foram canceladas?

Ver os participantes passando pelos testes é divertido nos 3 primeiros episódios, mas conforme a trama avança nada de impressionante acontece de fato, a série não consegue impressionar e o expectador fica esperando uma cena forte, um momento estressante. Os personagens são fracos e suas histórias são clichês demais. A narrativa fica o tempo todo mostrando que existem segredos não revelados, tentando assim prender a atenção do espectador, que sente vontade de ir ao fim pura e simplesmente pela curiosidade de saber quem vai passar e não para saber como aquele determinado personagem vai terminar.

O pior é que não fica claro porque esse tal Maralto é realmente melhor, a série não se preocupa em mostrar as diferenças reais entre as duas sociedades, o máximo que vamos ter são as especulações dos jovens candidatos que ficam imaginado como será viver do lado de lá, e os comentários vagos dos funcionários responsáveis em aplicar os testes. Se não vemos nada dessa tal vida melhor, do lado dos pobres é ainda pior, a única justificativa que eles usam como incentivo para os jovens passarem pelo processo é a pobreza, que também não é mostrada de forma clara, por se tratar de uma série que tem a desigualdade social como tema central era mais que obrigatório expor as condições de ambos os lados. Em um dos episódios a trama sugere que o problema das pessoas do continente é a falta de dinheiro, é muito confuso e as motivações de cada personagem não são claras ou convincentes.

O elenco é outro grande deslize, Bianca Comparato, Michel Gomes, Vaneza Oliveira, Rodolfo Valente e Rafael Lozano se destacam, mas não convencem quando uma cena demanda uma carga emocional, ou quando um diálogo requer uma intensidade maior. João Miguel faz bonito vivendo Ezequiel, o chefe do processo, o personagem mais interessante da série.

Infelizmente o ponta pé inicial das produções brasileiras da Netflix não começou tão bem, 3% é uma série que promete muito e entrega pouco, faltou bons personagens, faltou mais grana, faltou atores melhores, faltou uma trama mais interessante e menos clichê, com cenas fortes que impressionam. Mesmo assim a produção é superior as novas tentativas da TV aberta em fazer algo diferente. Ainda é incerto saber como o público brasileiro vai receber 3%, com isso uma segunda temporada pode estar longe de acontecer.

Avaliação do Crítico: Regular

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